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Carta de Agradecimento - Prêmio Professor Universitário do Ano
Agosto/2019

Nos dias 17 a 19 de julho aconteceu o Evento Nacional Enactus 2019 (ENEB), uma competição que reuniu estudantes universitários, professores, empresários, agentes do governo e líderes de organizações para mostrar como a ação empreendedora e a inovação compartilhada estão transformando vidas e criando um novo futuro para o mundo.

A Tilibra promove, desde 2014, o Prêmio Professor Universitário do Ano, que visa reconhecer o trabalho de professores do ensino superior que contribuem na aplicação da ação empreendedora desenvolvida pelos times Enactus. Este ano, o ganhador do prêmio foi o professor José Augusto Lacerda, da Universidade Federal do Pará – UFPA. 

José Augusto nos enviou uma carta de agradecimento em razão da premiação que recebeu. Situações como essa comprovam a importância de apoiar projetos que acreditam na construção de um mundo melhor. 

Segue carta de agradecimento na íntegra: 

"Querido Sidnei Bergamaschi e querida Danielle Medina,

Aqui quem vos escreve é o Prof. José Augusto Lacerda Fernandes, Conselheiro do Time ENACTUS UFPA; ou, simplesmente, Prof. Guto, que é como esses jovens esforçados e do bem me chamam por aqui. Me utilizando das palavras de um outro José bem mais notável, que certa vez nos disse “não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”, venho para registrar por escrito a honra inenarrável de ter recebido o Prêmio Professor Universitário do Ano Tilibra de 2019.

Eu sei que já faz quase um mês do fato (e por isso a ajuda do Saramago), mas entendam que levar mais de 10 jovens aos EUA no atual contexto da educação superior não é uma tarefa fácil. Exatamente isso, amigos: tive a alegria de ser premiado e de ver o meu time querido ser Campeão do ENEB 2019. E aí a reboque disso veio lançamento de crowdfunding e outras tantas providências à tomar. As 24h do dia não comportam todas elas, mas o importante é que está tudo fluindo.

Então voltando, antes de qualquer coisa, é digno fazer uma breve apresentação que vai além dos nomes e codinomes, correto? Sou paraense de Belém, terra do açaí e do tacacá. Em tempo: se não conhecem a capital da Amazônia, sintam-se intimados à visita-la pelo menos uma vez na vida. E, por favor, me deixem saber disso. Será um prazer recebe-los! Tenho 35 anos de idade, dos quais 12 são dedicados à docência, passando ao todo por 3 Universidades Federais (de distintas cidades do Brasil) e 3 instituições privadas. Sempre tentando passar um pouco do que aprendi na minha jornada profissional e acadêmica, isto é, desde a época de vendedor de roupas em um shopping da cidade ao Doutorado em Desenvolvimento Sustentável com estágio na Universidade de Coimbra. Sou de uma família de professores: dos meus oito tios/tias, seis são colegas de ofício; e o meu pai, que a propósito é o meu espelho enquanto ser humano e profissional, é não somente companheiro de profissão, como de instituição - compartilhamos o dia a dia dessa gigante chamada Universidade Federal do Pará, maior IES federal do país em número de alunos na atualidade. Graças ao parentesco direto com um servidor da referida instituição, tive o privilégio de estudar a vida toda no seu colégio de aplicação, o Núcleo Pedagógico Integrado (NPI), uma escola pública de amplo reconhecimento na cidade, frequentada por filhos de reitores, mas também por filhos de auxiliares de limpeza e, lógico, por muitos filhos de professores assim como eu. Talvez venha daí uma boa parte do apreço e do respeito que tenho pelas diferenças, a vontade de tornar o mundo um lugar menos desigual e a crença inabalável no poder da educação enquanto vetor de transformação social.

Isto posto, acho até que vocês já conseguem entender um pouco melhor o quão honroso e gratificante foi receber esse prêmio, não é? Filho de professor, sobrinho de outros tantos e com uma história edificada em torno dessa profissão, já dá pra imaginar a emoção que foi ser reconhecido nacionalmente pelo exercício da mesma. E não escondo de ninguém: só de lembrar da hora em que anunciaram o meu nome, já cai uma dúzia de lágrimas. Eu já havia sido homenageado em outras ocasiões: solenidades de formatura, menções por trabalhos acadêmicos, etc., já tinha até chegando entre os 3 finalistas do prêmio professor do ano em 2017, no ENEB do RJ, mas não me recordo de nada comparável aquele momento.

Calculem comigo, por favor. No âmbito de uma rede que vive para alavancar o Empreendedorismo Social, minha bandeira de vida (vide a formação). Agraciado por uma empresa de 90 anos que fabricou boa parte dos cadernos que usei (e uso) ao longo dessa jornada. Em São Paulo, cidade na qual cheguei – para iniciar minha carreira docente – em 2006 com uma mão na frente e outra atrás. E, de tabela, justo no dia que o meu Time de jovens gigantes se sagrou Campeão Nacional da liga principal pela primeira vez. Time esse, que foi campeão da Liga Rookie (de times iniciantes) logo no seu primeiro ano de fundação, em 2015, também em São Paulo, quando era apenas um quarteto de jovens bem intencionados e 1 único projeto exposto em um power point. Tudo muito diferente dos 95 membros e 5 super projetos que desenvolvemos hoje em dia.

O local, a história até chegar aqui, os laços de amizade e parentesco, os valores. Tudo em uma sintonia raramente vista na minha vida. Haja coração, percebem? Mas foi como tinha que ser: a coroação de uma trajetória suada, Sidnei e Danielle. Sobretudo nesses tempos sombrios em que nós, professores por amor, fomos escolhidos como grandes inimigos por quem insiste em não ver o óbvio: só a educação salva esse país. E, ao mesmo tempo, um passo a mais em uma trajetória que está longe de terminar, e que é marcada por belos encontros e diversas lições diárias, afinal, “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”, como já dizia Vinícuis, e o verdadeiro professor é aquele que vive “a beleza de ser um eterno aprendiz”, como cantou Gonzaguinha.

Enfim, meus caros, já com olhos marejados novamente e com o relógio dizendo que preciso voltar pra casa depois de uma longa jornada, despeço-me agradecendo mais uma vez a honra de ser o guardião desse prêmio tão nobre até o ano que vem. Ficará guardado aqui pelas bandas do Norte - um pouco longe, eu sei - mas extremamente bem guardado e aguardando a passagem de vocês por aqui. “Até já!”, combinado?
Antes do fim, só me permitam fazer um singelo pedido: por favor, nunca deixem de ofertar esse prêmio, meus caros. Trabalhar com educação e com empreendedorismo nesse país não é fácil; vocês sabem muito bem disso. E quando se fala em educação empreendedora com foco em projetos sociais, então? E não digo pela passagem aérea ou coisa que o valha, mas sim pelo reconhecimento puro em simples. Em uma era que o conhecimento vem de compartilhamentos, curtidas e afins, receber um prêmio de quem criou os seus cadernos e de quem, assim como a gente, acredita no poder da educação, é realmente indescritível. Avante, hoje e sempre, por favor.

Um grande abraço diretamente de Belém,

Guto."